Sozinha

Por Lilian Cunha

Ainda quando criança, eu era muito comunicativa. Qualquer coisa me fez mudar. Não sei o que foi essa tal coisa qualquer...

Sei que meu pai não me deixava brincar com os meninos na rua e as meninas não lhe pareciam boas companhias. Meus trajetos resumiram-se a casa-escola, escola-colegas de classe e colegas de classe-casa. Mas os colegas de classe com os quais mais conversava não me pareceram tão sinceros e amigos. Eu serviria se não houvesse ninguém mais ali. Deixei eles de lado e me tranquei ainda mais no meu mundinho.

Qual era o meu hobby? Gravar episódios de animes para pausar e desenhar. Passava horas em casa desenhando... Ouvia muita música. Tocava um pouco de teclado - notas solitárias como eu. Ficava a maior parte do tempo em casa sozinha. Talvez por isso seja ainda hoje um pouco estranha... rsrs

Eu voltei a freqüentar a Igreja mas ainda era muito estranha. Era só pra cumprir minha obrigação semanal com Deus. Era rotina. Uma vez por semana e quando chegava lá, ficava olhando a frase 'Jesus Cristo é o Senhor'. Aí você deve dizer, puxa que bacana. Que nada... Fazia isso pra que os obreiros não me olhassem nos olhos quando passassem e decidissem parar pra falar comigo. Um deles fez isso uma vez. Parou e sentou ao meu lado. Acho que ele só deve ter feito umas cinco perguntas do tipo: Tudo bem? Como vai sua família? Às quais respondi só com alguns bem e anham. É, ele viu que não havia dado certo e foi embora. Alguns me chamavam para o grupo jovem, mas eu só sorria e ia embora.

Eu era estranha. Muito estranha. Não sei se era timidez. Talvez fosse... Talvez seja isso. Ainda sou assim quando chego em ambientes novos, mas muita coisa mudou de lá pra cá. Muita coisa mesmo!